Três Perguntas para Henri Sardou


Três Perguntas para Henri Sardou />

01/11/2017

Blog BMagic

1) Conte um pouco da sua trajetória na mágica e seu trabalho atual?

A primeira mágica que aprendi foi assistindo ao mágico Millord no "Xou da Xuxa", na década de 80. Ele ensinou a atravessar, com um espeto, um balão cheio de ar sem estourar e desde então passei a prestar atenção em mágica. Depois disso ganhei um kit de mágicas de uma tia, no natal, e adorava brincar de ser mágico. Meu pai sabia fazer uma mágica com baralho, usando carta guia, que aprendeu com o mágico Ramade - que é seu amigo até hoje - e me ensinou a fazer, mas nunca tive pretensão de ser mágico. Segui como ator e produtor cultural. Um dia, depois de adulto, estava bebendo cerveja num botequim e apresentei esse número para um mágico amador, o Dom Elvis, que imediatamente percebeu meu talento e me levou para uma reunião de mágicos aqui no Rio, chamada Ponto dos Mágicos, coordenada pelo finado Toninho. Dalí conheci o CBI (Círculo Brasileiro de Ilusionismo), onde fui apresentado ao meio mágico carioca e pude aprender de verdade a fazer mágica. Comprei minhas primeiras mágicas com o Jerry, que tinha uma banca no Méier, subúrbio do Rio, e comecei a me aprofundar nos estudos. Em 2006 montei um grupo de mágicos chamado T.I.M.E. (Técnicas de Ilusionismo e Mágicas Extremas), no qual fazia apresentações, além de fabricar e vender gimmicks. Em 2008 segui em carreira solo e comecei a atuar como mágico profissional, mas quis o destino que eu não levasse a carreira a diante. Hoje, trabalho com mágicos e para mágicos, agenciando shows e oferecendo consultoria de imagem e marketing digital.

2)    Quais dificuldades enfrenta no seu cotidiano de trabalho?

A maior dificuldade que tenho enfrentado é conseguir vender valor. Infelizmente a mágica entrou numa espiral descendente de preços, sobretudo no Rio de Janeiro, e hoje a briga é pelo show mais barato. Isso, quando você ganha por comissão, principalmente, não é uma perspectiva muito promissora, mas sigo tentando reunir clientes que comprem essa ideia e estejam interessados em qualidade, não em preço. Prefiro trabalhar com um volume menor de shows, mas trabalhos consistentes, que acrescentem peso ao currículo dos artistas e façam realmente a diferença para os clientes. Penso que temos que educar, não só o público, mas os contratantes também. Tem espaço para todo tipo de show, do mais barato ao mais caro, mas insisto que a chave de tudo está no posicionamento. Existe mercado para o mágico que cobra barato e existe mercado para o mágico que cobra caro. O que não dá é vender um show caro e entregar um serviço barato. Meu desafio hoje é indicar o mágico certo para o evento do contratante, independente de preço.

3)    O que pensas ser necessário na formação de um mágico?

Olha, tirando a parte técnica, que é muito importante também, penso que os mágicos que se destacam são os que investem na parte artística. Ser mágico vai muito além de apenas fazer mágica. Um mágico completo, para ser valorizado no mercado e entre seus pares, precisa ter bagagem cultural, formação artística e até mesmo acadêmica. Eu costumo dizer que mais importante do que falar inglês, é fundamental saber o nosso idioma, para não cometer erros, muitas vezes tolos, que colocam em xeque a credibilidade do artista. Mas isso não significa que saber um outro idioma não seja importante, ao contrário. Sabemos que os melhores conteúdos voltados aos mágicos estão em inglês ou espanhol, então é desejável também conhecimento nessa área. Resumidamente, eu diria que o mais importante é o mágico não se colocar num pedestal e agir com a humildade socrática do "só sei que nada sei". A gente só deve deixar de aprender e buscar o saber quando morre. Enquanto estivermos respirando, o conhecimento é o bálsamo para qualquer área e na mágica não é diferente.