Três Perguntas para Alessandro Nóbrega


01/11/2017

Blog BMagic

1) Como a mágica entrou na sua vida?

A mágica chegou em minha vida muito cedo. Quando criança, descobri as HQ’s do Mandrake, personagem que desempenhava o papel de mágico para resolver os conflitos. Logo, encontrei o Manual de Mágicas do Mandrake, publicado em 1978, pela Rio Gráfica Editora (RGE). Foi meu primeiro passo para aprender meus primeiros números. Morando em uma pequena cidade do interior, a possibilidade de ver um mágico atuante era muito pequena, principalmente em um tempo em que não dispúnhamos dos recursos de divulgação que há hoje. A esperança se sustentava no desejo da chegada de um circo que trouxesse mágicos em seus espetáculos. Guardava a lembrança de cada número realizado por aqueles artistas e por dias o intrigante sentimento de descobrir uma maneira de como fazer. O que me rendeu um tempo de muita criatividade na tentativa de criar meus próprios números e aparelhos. Minha primeira apresentação ocorreu na escola em meus anos de estudante do 1º grau. A primeira vez é como o primeiro beijo: nunca se esquece. Uma vontade enorme de fazer bonito, mas a inexperiência pesa sobre os ombros, principalmente de um adolescente cheio de sonhos e fantasias e que deseja ardentemente fazer o maior sucesso. Não sabia aquele pobre rapaz que poderia levar uma vida inteira apenas aprendendo. A partir daí, a mágica não me largou mais. Em minha vida profissional como professor, não perdia a oportunidade de inserir algum número na aula para que pudesse alegrar e motivar um pouco o ambiente da sala de aula onde muitas vezes se torna cansativo para quem passa horas sentado na cadeira ouvindo o professor explicar a matéria. Com o passar do tempo, fui estudando, adquirindo material teórico e aparelhos que foram me ajudando a desenvolver minhas habilidades. Encontrei um grupo de mágicos, o MIRN, Mágicos e Ilusionistas do Rio Grande do Norte, o qual me proporcionou momentos de grande aprendizagem através dos encontros, oficinas e shows nos quais pude me apresentar e assim desenvolver habilidades no palco. Tudo isso me levou a buscar mais e mais. Hoje tenho realizado palestras de motivação e utilizo a mágica como ferramenta de interação e de fixação dos conceitos apresentados, e paralelo a isso, também realizo oficinas de iniciação à mágica com objetos do cotidiano em escolas e em pequenos espetáculos. 

2) O que você pensa sobre a mágica como recurso pedagógico?

Hoje, já não sou mais professor, profissão que exerci por 23 anos, mas tenho desenvolvido trabalhos para apresentar em escolas, utilizando a mágica na contação de história e como forma de divulgar meus trabalhos de publicação na área de literatura infantil. Foi uma forma de proporcionar a descoberta pelo prazer da leitura através da mágica, pois ela é um grande convite para isso, tendo em vista todo o sentimento de mistério envolvido e sua semelhança, muitas vezes, com as partes do enredo de uma história em que se mesclam momentos de tensão, relaxamento e clímax. É algo gratificante, ver o olhar ávido de cada criança que não apenas ouve a história, mas que tem uma experiência visual e muitas vezes concreta do enredo contado pelo mágico e proporcionado pelo número da mágica. Aí percebemos o diferencial que a mágica pode realizar no espaço de aprendizagem, no caso a escola, como um elemento do jogo, do lúdico, algo fundamental para o desenvolvimento psicossocial equilibrado do ser humano. Essa importância do lúdico para o ser humano já tem rendido muitos textos e estudos que corroboram a afirmativa de que é fundamental, como bem afirma Negrine[1]: “As contribuições das atividades lúdicas no desenvolvimento integral indicam que elas contribuem poderosamente no desenvolvimento global da criança.”

3) Qual sua inspiração para realizar esse trabalho?

O Eric Chartiot é um dos mágicos que me inspiram, entre tantos outros, especialmente por contar histórias juntamente com mágicas. Conheci-o através de vídeos na internet e em uma conferência promovida pela BMagic, na qual ele fala sobre sua experiência. Estou pontuando a influência do Eric Chartiot por ser o que mais se aproxima do caminho que estou trilhando na mágica, mas se tivesse que fazer uma lista dos mágicos que admiro e que me ensinam com suas performances, livros, tutoriais e criações seria muito extensa e correria o risco de deixar alguém de fora, e me refiro tanto a mágicos nacionais como internacionais. É nesse gigantesco universo da mágica, no qual tenho me debruçado há tanto tempo e que tenho encontrado um sentido que vai além do entretenimento, apresentando-se como uma gama de possibilidades de uso. E entre essas possibilidades estão a de que é possível ajudar a construir o conhecimento, seja no aluno ou no profissional que se encontra desmotivado em seu cotidiano de trabalho, promovendo uma melhora do desempenho em ambos, e a de despertar o desejo pelo mágico universo da leitura nas crianças, fator fundamental em seu crescimento psicossocial e educativo. Em suma, não há limites de criação e uso dessa maravilhosa arte. O encantador universo da mágica.

Abracadabra.


[1] NEGRINE, Ayrton. Aprendizagem e Desenvolvimento Infantil, Porto Alegre: Propil, 1994.